COP30: A Contradição entre o Capital Natural e o Fóssil Adia a Decisão para 2026
Alexandre Colombo
5/8/20243 min read


A 7ª Sessão da Conferência das Partes do Acordo de Paris (CMA.7), realizada em Belém e aclamada como a "COP da Verdade", encerrou-se com um apelo urgente para a aceleração da ação climática, mas com um desfecho que reflete uma paralisia perigosa: a transferência da maior parte das decisões de implementação para 2026. O documento final, sob o título ambicioso de “Mutirão Global” (documento na integra aqui), celebrou a "irreversibilidade" da transição energética e o avanço em reduzir a projeção de aquecimento de 4ºC para 2,5ºC. Contudo, para o capital de risco e para a integridade do nosso capital natural, a urgência foi confrontada com a burocracia.
A urgência da carta contrasta com a realidade das lacunas. Em vez de metas imediatas, a conferência lançou o Acelerador Global de Implementação e a Missão Belém para 1.5, cujos resultados tangíveis só serão consolidados e avaliados na próxima Cúpula, em novembro de 2026. Esta tática de adiar a execução, somada às críticas históricas sobre a falha dos países desenvolvidos em cumprir as metas pré-2020, demonstra que o multilateralismo ainda falha em alinhar o orçamento de carbono restante com a necessidade de ação imediata.
O Risco do Petróleo vs. o Valor da Bioeconomia
Do ponto de vista ESG, o Brasil viveu uma contradição sistêmica que minou sua credibilidade como líder de soluções baseadas na natureza. Embora o país tenha celebrado a redução histórica do desmatamento na Amazônia – um ativo inestimável de mitigação – esse ganho foi criticamente neutralizado pela expansão da fronteira fóssil. As chamadas emissões "ocultas", resultantes da queima do petróleo brasileiro exportado, anularam quase 70% dos avanços obtidos no combate ao desmatamento. A defesa de novas explorações, como na Foz do Amazonas, não apenas podem colocar em risco ecossistemas frágeis, mas também expõe o país a um sério risco de ativos irrecuperáveis, ignorando o dever fiduciário de proteger o valor de longo prazo contra choques climáticos.
O Brasil perdeu a oportunidade de se consolidar como a principal potência verde do planeta ao não apresentar um mapa de rota (roadmap) claro para a superação dos combustíveis fósseis e ao não revisar imediatamente suas NDCs apresentadas na COP29 (Contribuição Nacionalmente Determinada - na integra aqui).
Financiamento Climático e os Desafios de Fluxo
Na arquitetura de financiamento, a criação do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) é um passo inovador no conceito de blended finance, buscando mobilizar mais de US$ 5,5 bilhões em aportes anunciados ao combinar investimento público e privado. Contudo, o grande desafio de governança é o destino desses recursos. O texto final reafirma a necessidade de US$ 1,3 trilhão anuais para o desenvolvimento, mas reconhece as "iniquidades sistêmicas" no acesso.
A crítica reside na agilidade do repasse: a verdadeira mitigação e adaptação dependem de que os recursos cheguem de forma desburocratizada aos guardiões da floresta. Apesar do compromisso de destinar pelo menos 20% aos povos indígenas e comunidades locais, a história de lentidão do Fundo Amazônia levanta a preocupação de que essa nova e complexa estrutura de financiamento possa falhar em transformar a bioeconomia em renda ativa e imediata, deixando nosso capital natural vulnerável.
Um Apelo à Eficácia na COP31
O resultado da COP30 foi um misto de celebração e inação, deixando para a próxima rodada o que deveria ter sido decidido em Belém: - planos concretos para descarbonização e financiamento justo.
O Brasil, ao manter a contradição entre o carbono fóssil e o carbono florestal, falhou em usar seu capital político para impulsionar acordos ambiciosos, mantendo em aberto os roadmaps para a superação de combustíveis fósseis e o fim do desmatamento.
Resta-nos agora direcionar a expectativa para a COP31 em 2026, na Turquia. É imperativo que os líderes globais transformem a retórica do "Mutirão Global" em riscos financeiros gerenciáveis e em políticas de investimento imediatas. Desejo sinceramente que a COP31 seja a conferência onde o dever fiduciário com as gerações futuras finalmente supere a inércia dos interesses estabelecidos, garantindo que o valor da vida não seja mais um ativo contingente em um relatório a ser entregue daqui a um ano.
